A criação do dia internacional da mulher foi fruto de muita luta contra a desigualdade de gênero e também reivindicações de direitos humanos e civis ao redor do mundo. Em 1977 a Organização das Nações Unidas declarou 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, simbolizando o combate ao machismo e a violência.
Atualmente, a data é marcada por diversas mensagens de carinho, respeito e admiração, sejam elas no âmbito pessoal e social ou realizadas por governantes, órgãos políticos, grandes corporações e clubes esportivos. Diversos clubes usam as redes sociais e realizam ações de marketing para prestarem homenagens a torcedoras, jogadoras e funcionárias. Mas infelizmente a realidade das atletas é outra. Por trás de flores e parabéns, ainda há muito a ser mudado.
Ainda hoje é possível notar a existência de coberturas esportivas pautadas pela aparência das atletas, além de uma maior atenção da mídia às suas vidas particulares do que aos seus resultados e conquistas profissionais. Apesar de mudanças significativas na abordagem do esporte feminino (conquistadas depois de inúmeras denúncias), ainda há uma grande diferença entre o valor e o tipo de atenção que as mulheres recebem, se comparado aos homens.
Em um levantamento da Universidade de Cambridge, em 2016, o tratamento ainda equivocado da grande mídia é evidente. A pesquisa mostra as palavras, em inglês, mais utilizadas para definir as atletas. Entre os termos associados aos atletas homens estavam: forte, grande, rápido, vencer, dominar e derrotar. Para as mulheres, as palavras mais repetidas foram: casada, envelhecida, solteira, grávida, competir e participar. Enquanto a atenção da mídia é voltada para detalhes pessoais, as vitórias profissionais ficam em segundo plano.
Na última Copa do Mundo Feminina, a jogadora da seleção feminina de futebol Marta comemorou seu gol de pênalti no jogo contra a Austrália apontando para a chuteira preta, sem marca de patrocinador e desenhada com uma bandeira que representa a igualdade de gênero, como forma de manifesto. Em 2020, a FIFA ainda criava problemas para reconhecer o título de Marta de maior artilheira em mundiais, mesmo ela tendo mais gols marcados do que o alemão Klose.
Em postagem, a Fifa, em uma rede social, citou: “Feliz Aniversário de 42 anos para o maior artilheiro de todos os tempos da Copa do Mundo, Miroslav Klose”. Ao serem questionados pelo blog Dibradoras, a entidade respondeu em nota que “Klose é o maior goleador de todos os tempos da Copa do Mundo da FIFA com 16 gols e Marta é a maior goleadora de todos os tempos da Copa do Mundo Feminina da FIFA com 17 gols”, distinção essa que insiste em diminuir o feito de uma mulher quando supera um homem.
A hostilidade para com as mulheres no esporte vai além da desigualdade de gênero. Atletas lésbicas e bissexuais de vários lugares do mundo encontram dificuldades para expressar sua sexualidade livremente sem medo de ser rechaçada. O preconceito vem de todos os lados: patrocinadores, presidentes dos clubes, e público.
Em 2018, o presidente do Tolima, tradicional time colombiano, Gabriel Camargo afirmou que “o futebol feminino é um tremendo terreno fértil para o lesbianismo”, após a decisão da Conmebol de que times que disputam a Libertadores masculina precisam, necessariamente, ter um time feminino.
Precisamos entender que existem, sim, mulheres lésbicas no futebol, assim como existem mulheres heterossexuais que também jogam. Mas, independentemente do esporte, atletas lésbicas e bis merecem respeito e o direito de exporem o quanto quiserem de suas vidas pessoais e afetivas.
Outra face da lesbofobia se manifesta através da objetificação das atletas que se relacionam com outras mulheres. A hiperssexualização sofrida por elas quando resolvem expor publicamente seus relacionamentos também é desrespeitoso e despreza os méritos conquistados dentro de campo.
Apesar de tudo, o mais importante é que, mesmo sem o mesmo investimento financeiro e reconhecimento público que o esporte masculino recebe, as mulheres encontram forças para continuar lutando. O maior exemplo disso é Marta, eleita seis vezes a melhor jogadora do mundo e está sempre usando sua voz e sua visibilidade para denunciar a desigualdade vivida pelas jogadoras.
Não só no futebol, mas também em diversas modalidades temos a representatividade de atletas como Rafaela Silva do Judô, Isadora Cerullo do Rúgbi, Mayssa Pessoa do handebol, entre tantas outras que num meio preconceituoso, tiveram a força de declarar quem são e o que amam.
E para todas essas mulheres: o nosso muito obrigada. Seguiremos cada vez mais fortes e inspirando mais meninas a praticarem esportes. Nossa luta continua e suas vozes foram muito importantes para chegarmos onde chegamos!
Redação: Carol Schimitt e Bia Schueler
Áudio Descrição: Camila Lanes
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